Este projecto nasce com uma forte amizade que já dura para lá dos 10 anos, na altura jovens imberbes com aptidão para a cozinha. Contudo, a amizade cresceu, o gosto pelos cozinhados também, e cresceram também os quilos que a balança teima e mostrar. Numa das muitas e longas conversas que ao longo de todo este tempo foram tendo lugar mais ou menos com a mesma regularidade surge a ideia de criar um projecto. Inicialmente a ideia passava por algo diferente, o Miguel desde cedo teve o gosto pelos livros ao passo que o André por seu lado, a sua grande paixão sempre foi o vinho. Jovens e inocentes, cheios de sonhos e projectos, sempre pensaram em abrir uma livraria-café/bar onde os clientes pudessem entrar, sentar olhar a vista sobre o rio (Tejo ou Douro), pedir um copo de vinho e ler um pouco. Com o passar dos anos o projecto foi ficando na gaveta à espera da altura certa, sem nunca sabermos bem quando esta iria chegar, se é que vai chegar e deixar de ser um projecto/sonho. É graças a grande amizade existente que os dois vão partilhando confidências, desabafos e até receitas. A ultima das quais, é a do bolo de maçã. O André experimentou esta receita e partilhou-a com o Miguel, ele resolveu experimenta-la e adorou-a, ele e toda a gente que a provou. Assim, numa daquelas conversas pelo telefone, sonharam com o lançamento de um livro de receitas, mas no imediato o blog é o mais fácil de conseguir. Talvez um dia este blog saía da Web e ganhe a consistência física do papel.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cozinha Sentimental - Crónica I


… de Setembro de 2013

Comer com Pauzinhos

“Macacos com agulhas de tricô não teriam parecido mais ridículos do que nós, comentou um dos elementos de um grupo de americanos de visita à China, em 1819.”
Olá!

Emprestaram-me um livro delicioso: A história da invenção na cozinha, da britânica Bee Wilson. A frase de cima pertence-lhe e o livro vai servindo de inspiração para as minhas primeiras consultas gastronómicas neste querido blogue, pequenas reflexões decoradas com sentimentos agridoces, que entrarão pelos vossos paladares adentro, ciberneticamente apenas, claro, enquanto houver tema de conversa e vontade de todos os lados. Boa? Boa.

Não tenho nada contra os macacos tricoteiros e tenho a certeza que mais depressa um macaco aprenderia a tricotar do que eu a comer com pauzinhos. Detesto. Não tenho jeito nenhum, não gosto. No entanto, gosto bastante de ir ou de mandar vir do chinês (excetua-se o arroz, porque o meu é muito melhor do que o arroz insípido dos restaurantes chineses que já experimentei). E estou a adorar a comida japonesa que vou provando. Verdade. Agora, irrita-me bastante quando, sentada à mesa de um restaurante asiático, peço talheres e o empregado me responde com um olhar de desdém ou, pelo contrário, pleno de compaixão, por vezes retorquindo: - Tem a certeza? Não gostaria de experimentar? Posso trazer-lhe uns pauzinhos de principiante, com elástico… É muito simples. Brrrrr, fico piursa. Respiro fundo, como que meditando sobre o assunto e insisto, perentoriamente, com o empregado: - Por favor, traga-me talheres: garfo e faca. E uma colher. Obrigada.

É o que sinto, desculpem-me os aficionados. Admiro-os quando manejam com destreza “as agulhas de tricô”. Consta no livro da Bee Wilson que, socialmente falando, os pauzinhos são mais pacíficos e harmoniosos que o garfo e a faca, essa esquartejadora de alimentos que não devia aparecer em público. Bom, sendo assim, gosto de ser descarada, pronto. E até corto com jeitinho, antecipando o prazer que me vai dar saborear aquele pedaço da salmon party!... Se não fosse a faca, teria de engolir um grande naco, correndo o risco de me engasgar ou de engolir sem mastigar!...

Cada macaco no seu galho. Enquanto puder, pelo menos nos restaurantes e nas casas situadas no Ocidente, comerei com faca e garfo, tenham paciência…

Já agora, até se pode comer sardinhas com pauzinhos, né? Eu prefiro-as no pão saloio, à mão, acompanhadas de uma colorida salada de pimentos, à garfada!

Até ao próximo sabor, nesta nossa cozinha sentimental, vivam bem, comam melhor!

Sissi

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